SÍNDROME DE CHARLES BONNET
Resumo
A síndrome de Charles Bonnet (SCB) é definida por alucinações visuais complexas em pacientes sem comprometimento cognitivo e com doença oftalmológica acompanhada de redução na acuidade visual. Possui caráter benigno, o paciente mantém consciência da natureza irreal do fenômeno e tem sido relatada principalmente em idosos. A SCB é importante diagnóstico diferencial de síndromes demenciais, e seu correto diagnóstico possui grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, que sofrem com o estigma da doença psiquiátrica, com o insucesso das terapias instituídas e com a possibilidade de declínio cognitivo iminente. É possível evitar esse impacto negativo através do esclarecimento sobre a síndrome. Daí a relevância da difusão da informação e correto diagnóstico clínico. Objetivo: Nesse contexto, foi realizada uma revisão integrativa da literatura para melhor caracterizar a síndrome de Charles Bonnet, para contribuir com a disseminação do conhecimento sobre assunto. Metodologia: para a seleção dos artigos utilizou-se aqueles disponíveis nas bases de dados PUBMED e SCIELO; no período entre 2000 e 2017; nos idiomas português e inglês; utilizando as palavras chaves no título: “Síndrome de Charles Bonnet” ou “Charles Bonnet Syndrome”. A qualidade metodológica dos artigos foi avaliada pelos critérios do STROBEe do CARE. Resultados e Discussão: Foram selecionados nove artigos (três séries de caso, cinco estudos de prevalência e um estudo de incidência). A prevalência SCB mostrou-se bastante variável dentre os estudos revisados (0,4% e 34%) e a média de idade foi entre 70 e 80 anos. As características das alucinações identificadas foram: frequência diária, semanal ou mensal; imagens afônicas, podendo ser em cores ou preto e brancas, estáticas ou dinâmicas; o conteúdo pode envolver pessoas, animais, objetos, construções e/ou paisagens, em tamanho real ou miniaturas. O estudo da neuroimagem funcional revelou aumento de atividade unilateral no lobo temporal, corpo estriado e tálamo; áreas envolvidas no processo de percepção e interpretação do estímulo visual. Não existiu consenso sobre a terapia medicamentosa na presente revisão. A maioria dos estudos que abordam o manejo clínico da SCB são estudos de casos individuais ou série de casos. Entretanto, autores afirmam que o esclarecimento sobre a SCB e seu caráter benigno reduziu o incômodo causado pelas alucinações nos pacientes e, assim, a terapia medicamentosa foi dispensada pelos próprios pacientes. Conclusão: Mais estudos na área são necessários para que se possa conhecer a SCB e realizar o diagnóstico diferencial de síndromes demenciais e psiquiátricas. Essa proposta possivelmente trará grandes benefícios para o sistema de saúde e para os que vivenciam a SCB.
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Revista Brasileira de Neurologia e Psiquiatria. ISSN: 1414-0365